Sunday, June 10, 2007

...mais um fragmento.

...Este texto... curioso, escrevi-o em... 2000? 2001? Também não é relevante, em ambos os anos, a fase era idêntica...


...Ao rever estas minhas escritas, é impossível não sentir uma sensação de... "full circle"...



Pérolas

Porque é que uma memoria pode ferir tanto? Porque é que o passado pode ser tão cruel nas suas promessas, promessas falsas e frias, qual chuva de Dezembro?

Estas eram perguntas que me fazia sempre, faço sempre; não quero pensar nisso, mas estão lá, prementes, indubitavelmente torturantes e sedutoras, oferecendo o seu néctar de nostalgia, que nos leva para um reino irreal e desconexo do presente, da realidade, da necessidade do dia, dia cruel e sádico.

Olho lá para fora. Chove. Chove fora do tempo, e cada gota morre no chão frio e poeirento. Imagino outro tempo. Não é perfeito: mas a quente lamina da faca da imaginação corta as partes que não interessam, qual barra de manteiga, e deixa ficar apenas o que interessa... O que falta, acrescento, qual pasteleiro louco, que põe cerejas e gomas por cima de camadas de chantilly e açúcar, açúcar doce, que agrada mas não satisfaz, que nos leva a esquecer o fel da bebida que nos dão para beber dia a dia. Assim se cria o doce mais doce dos sonhos, sonhos passados e futuros.

A noite cai. Gotas de chuva caiem nas minhas mãos, aos meus pés. Mas estou abrigado... Como posso estar a apanhar chuva? Gotas mornas? Terá Zeus, na sua displicência, aquecido as gotas torrentes com a raiva calorífica dos seus raios?

Pestanejo, e sinto que até os meus olhos estão molhados, até que compreendo. São pérolas translúcidas de um sentimento que mantenho distante. Não gosto, não quero. Sorrio, e olho para a frente. Entro na chuva, perco-me na chuva. Olham-me com estranheza distante, não ligo. Nunca liguei. Nunca ligarei. Tenho um destino, vou em frente, deixo de sentir, parece que durmo, mas o peso da roupa ensopada desmente o meu sonho, sonho com um par de braços quentes e femininos, que me amparam, aninham, fazem a dor desaparecer, me fazem perder em quente dormência, me aconchegam num peito suave e perfumado, mas esses braços não existiram, nunca existiram, apenas são semi-ilusão, fenómeno óptico, física dúbia, não interessa pois os elementos dão-me o abraço que necessito, frio, frio de horas, pesado de toneladas, escuro como a noite. Perco a noção de tudo. Já meio distante, sinto algo tombar, pesado e total, qual árvore cortada pelo machado escuro de vento e água dos elementos. Lama adorna esse tronco em forma de corpo. E tudo de apaga de vez.

Um último pensamento, em forma de despedida... Esse corpo, sou eu.

3 comments:

Jasmim said...

Ainda que "triste", ainda que me dê uma imagem de anseio, de sufoco, de um âmago fustigado, deixa-me fazer deste teu texto, o meu de eleição...

Ao ler-te, senti o declínio no meu olhar, senti um turbulento aperto no peito, um gélido arrepiu na pele...
Correu uma...e mais uma outra "Pérola"...rolaram, dançaram, no palco do meu rosto!

Um beijo enorme, doce e terno em ti
*

Excelsior said...

... :((((

Ai...

*abraço grande*

Não... Quase que sinto que te tenho de pedir desculpa...

...Este texto foi, inicialmente, mera "experiência literária" minha, após ter lido um livro que detestei, mas que me foi vendido como sendo algo de "muito bom", um "despertar de consciências"... "Com a Cabeça Nas Núvens", de Susanna Tamaro... Além de uma escrita que achei enervante e presunçosa, no final a vontade que senti era a de esmurrar a personagem principal!

Logo, escreviu isto para tentar "mostrar" o quão fácil era escrever assim. :P

...O problema, é que neste "ensaio auto-proposto", acho que deixei escapar algo mais, por entre as minhas palavras... E ao relê-lo, este ano, percebi isso mesmo...

(Desculpa!...) :(

Beijinho de carinho imenso, de muito "querer bem"...

*Um Momento* said...

...
Abraço-te...
Muito
(*)