Monday, January 14, 2008

A Árvore Dos Amantes...


...Antes de mais... Não, não estou agora com a presunção de ser um escritor, ou poeta... Mas sim, tenho reagido, e muito, aos desafios em forma de Magia de sons, imagens e palavras, que no blog momentUS, a Ni tem criado... E ela gerou novo incitamento, no post que se encontra aqui. E, tal como lá comentei, inicialmente só vi a imagem, o título e a música. E foi ao enquadramento de tais sentires, que reagi... antes de ler a Constelação de Emoções em forma de Palavra a que ela deu contornos, no seguimento do seu próprio desafio... o que poderá fazer o meu texto parecer não seguir um grande sentido ou valor, no encandeamento, mas... enfim: a Ni reconheceu-lhe mérito e aceitou-me novamente um texto... E sinto como algo belo, a Rede de Luz que se cria, por se citar Beleza, em mais que um "local"... Sendo assim, deixo o meu escrito, que lá figura, aqui também. Como um testemunho de gratidão, pelo Sentir em mim despertado... algo triste, como recordação... mas muito doce, na noção de sentir terminado, só tendo lugar como uma memória...


«A Árvore Dos Amantes»



Ser Elemental, Vivo para além dos Séculos, ligado a uma Idade para além da Idade: o beijo verde da Terra-Mãe...

...a Árvore havia contemplado esta História... em capítulos esparsos, que pareciam sempre acabar por cair no abraço do seu tronco, em momentos por demais significativos, do Amor Radiante, cintilante, de dois Amantes...

Num abraço amoroso, silencioso, imóvel no movimento de brisas que estremeciam as suas folhas e ramos, ela havia amparado no sabor do seu abraço ondulante, aquelas duas crianças (para a Árvore, vidas tão efémeras, eram equivalentes às de crianças, por comparação com a sua ancestralidade), como quem ampara dois filhos adoptivos, numa felicidade que aprendera a desejar, tanto, ver florescer...

...Como quando, ainda meninos, perdidos em risos e brincadeiras, se haviam empoleirado nos seus galhos mais firmes, agarrados um ao outro, vendo a paisagem primaveril que se estendia por aquele vale, tão longe das suas moradias... numa fuga àquilo que eles sentiam como o jugo dos adultos...

...Como quando, tremendo de nervosismo, ele, já adolescente, após ter aguardado largos momentos pela chegada dela e encostado ao tronco da Árvore... a vê aproximar-se... E, coração acelerado... voz quase engasgada... lhe estende um colar de flores, multicolor, todas entrelaçadas com um carinho não acompanhado pelo seu jeito com as mãos... E em seguida, arrisca numa emoção que quase o faz desfalecer, emitir em forma de som, a declaração do seu Amor por ela...

...Como quando, numa noite de Verão, sob a sua copa, os dois, ainda muito jovens, mas já adultos, uniram pela primeira vez suas essências, num bailado de carícias espiraladas, beijos sequiosos da saborosa humidade do desejo do outro, pernas enlaçando as costas dele, incitando-o a uma união mais profunda com ela... Ele, desenhando círculos e rios nas costas dela... Ele, fazendo florescer o desejo nela, em apaixonados e devotos beijos nos seus seios, marca da sua incontornável feminilidade...

...E não era a brisa mais amena, mais fresca, daquela altura do dia, que despertava os mamilos dela...

...E nessa noite, a Árvore testemunhou, no transbordar de um desejo imenso, num derrame partilhado, numa fusão cantada ao som de gemidos surpresos e tão extasiadamente felizes... aqueles dois tornarem-se, verdadeira, total, e fielmente... Amantes...

...

E, entre outros momentos... a Árvore testemunhou o mais marcante... na vida daqueles dois caminhantes... Ela não entendia, pois nenhuma necessidade disso sentia, os sons cantados em forma de palavras dos seres transitórios e móveis... mas sentia-lhes, tão limpidamente, as emoções, emanações... E eles estavam, mais uma vez, ao pé dela, sobre o tapete castanho-esverdeado das vestes que a Árvore largara, numa homenagem ao Outono tão presente… Era tarde, e o pôr do sol adornava o verde do bosque, com tons dourados-rubro... Seria belo, não fosse a tristeza pungente que ressaltava dos Amantes...

...Discórdia, mas não agressão... Tristeza, mas não nenhum esmorecer do carinho entre eles... Angústia, mas nenhum negar do Amor que deles irradiava para com o outro, brilhante como mil constelações de Sois...

...mas era uma despedida. Não desejada, mas muito vincada. Rios de desespero jorravam dos espelhos das suas essências, cristalinos e com sabor a Mar... Dedos, entrelaçavam-se, como se por o fazerem por breves instantes, conseguissem torcer o incontornável... de uma despedida inadiável.

...Um último beijo, um último fulgor de Essências Partilhadas num Elo Inquebrável... mas vítima de uma cisão. Uma carícia dele, nos cabelos e rosto dela... Uma Prece carregada de um sentido eterno, numa quase promessa, raiada de tons de violeta de Esperança, e azuis de Amor...

...e eles separam-se. Ela vai... e perde-se, nas sombras de uma noite anunciada, qual Inverno da Alma, ao sabor de um restolhar lamentado, do vento nos ramos... Como se a própria Terra-Mãe expressasse o seu pesar...

...e ela, vestes brancas esvoaçantes, cabelos negros cor de Morfeu... desaparece entre árvores e arvoredo...

...E ele fica. Aguarda. Contém a dor a custo. Recorda tudo quanto viveu e quereria poder viver... e não lhe será permitido.

Afasta-se.

Caminha para uma clareira, despida de tudo, menos das Estrelas que o abraçam num pedido para regressar...

...Ele olha para cima... fecha os olhos... abre os braços... e transfigura-se. Calor de uma Chama Terna, que não queima mas aquece, acende-se ao seu redor... e ganha forma, espraiando-se das suas costas, como Asas Imensas...

...E naquele instante, é a Árvore que se sente criança, por comparação ao Elemental Fogo que perante ela se assume... Não mais um homem, jovem por comparação, mas um ser velho para além do Tempo... que deixou de poder ser criança...

E em Asas de Fogo, que o elevam nos ares, mais leve que qualquer coisa naquele Mundo... ele vai, num rasto de Luz Dourada, para o Abraço do Cosmos-Pai...

...Só que, para sempre, uma parte de si, naquela Terra-Mãe fica... e para sempre... uma ânsia de voltar...

Excelsior

4 comments:

Ni said...

Ao ler o teu texto fica uma certeza: ele tem raiz na raiz da árvore de todos os amantes.... e eleva-se em ramificações... folhas, flores e frutos... na essência de quem reconhece a LUZ... para além de todo o tempo e espaço...

Escreves com a alma... e acordas memórias.
Ninguém fica indiferente à tua escrita....

Abraço de vento embalado

Excelsior said...

Ni...

*sorrindo... e tentando não corar*

(Difícil...) 0:)

...Eu... sinto que escrevi com simplicidade, com as ferramentas que conheço e tenho... Mas... escrevi com Verdade, e sim, com o Todo da Alma... Vivência, experiência, crescimento...

(...e esperança...)

...Oh Ni... :) De todas as pessoas, tu dizeres-me tal, é... recompensa para além de qualquer hipótese de expressão, em qualquer língua humana... :)

(...exactamente porque fazes, incomensuravelmente melhor, aquilo que identificas em mim, eu fazer nos meus escritos...)

Abraço em Espiral de Luz Partilhada...

Desassossego said...

Passei pela Ni esta manhã, voltei lá esta tarde pelas palavras, pelos sentires, pela música... passo por cá por tudo o que li na Ni...
A ambos obrigada pela bela partilha...
Beijo doce.

Excelsior said...

Desassossego...

:) Obrigado eu, pela gentileza da tua passagem... pelo teu tempo, atenção, e correspondências de sentires...

Abraço de Luz...