Tuesday, February 21, 2012

A CAMINHO DA TRANSFIGURAÇÃO - 6




8/4/89


    Oh, Inominável! Há mil sois abrasadores no mundo que me atrai. Eles queimam-me e arrasam-me. No entanto, começo a sentir-lhes o frescor suave. Há mil ventos, bafos de ciclone gélido que me petrificam perante abismos. No entanto, começo a sentir-lhes o calor da Vida.
    O triângulo inferior geme e chora; o triângulo superior canta e exulta; eu oscilo; porém, começo a fundir-me no pilar de fogo.
    O meu mundo está em chamas. os meus átomos despertam para vibrar em direcções desconhecidas. Há dores de parto em mim e, todavia, o que está para nascer não tem nome nem lugar.
    Deus! Os meus centros tornaram-se instrumento. Eu próprio tornei-me um centro de centros maiores. O ser tríplice reclama para si os domínios do coração e da cabeça; o ser uno reclama para si o domínio básico onde jaz o filho aprisionado pela mãe desnaturada.
    As vozes das estrelas começam a ecoar pelas entranhas dos meus corpos e pelas vias da minha energia. A enorme vibração do silêncio vem preencher o meu ser dilatado. Senhor! Vós sois um fogo consumidor mas a vossa chama vem alimentar os que se vos tornam fiéis!
    Shiva! Os teus mil braços estão em mim e cada um segura a pérola de uma reencarnação!
    Brahma! A tua envolvência alimenta cada fibra do meu ser e dá-lhe inspiração para cumprir a magnitude do Plano!
    Vishnú! O teu amor sustenta-me; o teu alento faz-me prenhe de mil sabedorias e pródigo de mil amores pois todos os seres encontram em ti o mediador para que a Mãe não se aproprie completamente e o Pai não destrua senão quando é chegado o momento.
    Indizível! O Cosmos inteiro não sabe falar de ti!
    Inominável! Só o mantram do silêncio abre a via para ti!
    Imprescrutável! Só a infinita Presença interior pode entender-te!
    Olho para ti! Ouso olhar para ti! Shiva é insustentável e o seu olho arrasa os que procuram sustentá-lo. Arrasa-me! Assim deixo de ser homem e o ser profundo em mim continua a contemplar-te.
    Vê: eis que o meu coração transborda vibrações inumanas e um arrepio me percorre anunciando que o teu verbo quer penetrar na caverna vertebral e desencadear as potencias adormecidas. Eu, porém, não temo. O que temia morre ao contemplar-te; o corajoso exulta perante o fogo.
    Eu Sou a Fénix. Eu Sou a águia que voa para as alturas. Eu Sou a essência dos meus próprios ciclos, o que parte e o que retorna e o que permanece. A minha aventura é ousar estar em ti, o meu triunfo é ousar ser contigo.
    Não há tempestade, não há ciclone, não há cataclismo que expresse quanto és temível; não há idílio, não há prazer, não há calmaria que expresse quanto és afável e acariciante; não há muralha, não há fortaleza, não há lugar que expresse quanto és envolvente e protector.
    Tu, o Senhor da Paz, provocas explosões interiores e êxtases; tu, o Senhor da Guerra, provocas tranquilidade e confiança.
    Transporta-me, abre-me o caminho, atrai-me e empurra-me porque Eu Sou uma ténue centelha, um grão de luz pura, uma lágrima do orvalho da Vida, um som da Harpa Cósmica. O meu destino és tu!
    Deixa-me cantar o que ouço! Mergulho na terra dos paradoxos; por isso cantarei o silêncio para que os homens se calem e escutem o inaudível. Procurarei também que vejam o invisível; quando tactearem o impalpável, contudo, estarão aptos a constituírem-se como pilares do Templo Eterno.
    Senhor! O meu Cântico não tem fim como tu não tens fim. O que se cala aqui é acompanhado de mil canções noutro lugar; o que cessa é uno com o que recomeça. O que cessa e recomeça em simultâneo é uno com a eternidade. A eternidade está em mim e abençoa todas as coisas.
    Eu Sou o Que Sou.


SERAPIS BEY

(in Pérolas de Luz, Volume II, do Centro Lusitano de Unificação Cultural)


No comments: