...Há dias atrás, muitos ficaram chocados com palavras ditas por um ex-militar de Abril. Esse senhor, que me recuso sequer a nomear, pouca consideração me merece, atendendo ao seu percurso. Mas... dias antes... nomeadamente no dia 22 de Outubro... um outro Militar de Abril, Vasco Lourenço, havia-se pronunciado sobre a situação actual. Este, considerado um "moderado"... refere, em entrevista disponível
aqui, algumas coisas que vão ao encontro de muitos dos meus pensamentos... e que são pensamentos cada vez mais partilhados.
A semana passada, Marques Mendes, em comentário na TVI24, optou por colocar estes dois militares no mesmo saco, dando-lhes "sinal menos", e referindo palavras como "em democracia, o povo é quem mais ordena", e "em democracia, o povo vota, e escolhe"...
Escolhe?
...Permitam-me partilhar aqui um video, publicado no blog
Aventar... um excepcional trabalho de montagem, que pouco atrás fica de trabalhos feitos no programa americano "The Daily Show"...
Neste video, está o Primeiro Ministro que quem votou no PSD... escolheu. Estão as razões que o levaram a ser eleito. Ele advoga, aqui, o contrario de TUDO o que tem feito, desde que chegou ao poder.
Mas... apesar de esta ser, de longe, a situação mais grave do género até ao momento... não é de todo original. Fala-se muito dos últimos 10 anos de governação... oportunidades perdidas, etc. Então... vamos até 2002, quando António Guterres, então o nosso chefe de governo, apoiou activamente os autarcas do PS, nas Eleições Regionais desse ano. Durante a campanha, abertamente disse que não se poderia nunca tirar conclusões quanto a Eleições Legislativas, das Autárquicas. Que não era o Governo que estava a ir a votos. No entanto, apurados os votos... e tendo o PS perdido as Câmaras de Lisboa e Porto... António Guterres vem apresentar a demissão, considerando que aqueles votos eram uma rejeição do actual governo, e que sentia não reunir as condições para continuar a governar. (Este é ainda, para algumas pessoas, um dos maiores mistérios da política portuguesa recente...)
Novo episódio, nesse mesmo ano: José Manuel Durão Barroso ganha as eleições legislativas, com maioria relativa. Havia, anos antes (1999?), dito algo como "safa, que desta já nos livrámos", perante a inviabilização de uma aliança entre o PSD e o CDS, na altura em que o seu partido era liderado por Marcelo Rebelo de Sousa. Ora... acaba por, um mês depois, consumar uma aliança governativa... com o CDS, que continuava a ter o mesmo líder que ele havia rejeitado, anos antes, quando estava na oposição... Paulo Portas. Ah! E havia sido eleito sob a promessa de que, não só não aumentaria impostos, como iria ainda efectuar um arrojado "choque fiscal", algo como durante um período de tempo de um ano ou dois, reduzir drasticamente os impostos sobre as empresas, de modo a estimular a economia... Ora, chega ao Governo, e inaugura o discurso da "tanga", dizendo que era assim que havia encontrado o país... muito pior do que esperava. Logo... nada de choque fiscal... e mais 2% de IVA.
Anos depois... está-se em 2005, quando José Sócrates chega ao cargo de Primeiro Ministro, com a primeira maioria absoluta na história do PS. Este, numa campanha em que quase se limitou a nada dizer, e a gerir a saturação do povo com o(s) governo(s) de coligação, prometia 150 mil postos de trabalho, entre outros populismos. Escusado será dizer que o desemprego até subiu, durante esse governo. Mais: repetiu o discurso de Durão Barroso, dizendo que tinha encontrado as contas num tal estado... que, obviamente, era preciso aumentar impostos. Nomeadamente o IVA... mais 2%.
...E agora... chegámos ao cúmulo: o Governo actual.
O que me pergunto, no meio disto tudo... é: ISTO, é Democracia? Quando sucessivos governos são eleitos com base num conjunto de promessas que nunca cumprem, sem que responsabilidade alguma, real, caia sobre eles? Quando negócios danosos (Parcerias Publico Privadas, por exemplo) são decididos sem que deles o povo saiba, até ser tarde demais?
Não há Democracia, quando o programa de governo já foi estabelecido, com poderes financeiros externos (vulgo "Troika"), pelos partidos do chamado "arco do poder", antes sequer das eleições. Não há Democracia, quando os restantes partidos com assento parlamentar (PCP, Verdes e BE) recusam-se a apresentar-se como alternativa viável de governo, e a sair do seu confortável lugar de "vozes da contestação". (Nunca se viu, por exemplo um BE a disponibilizar-se para formar governo com o PS, usando como moeda de troca a defesa de políticas sociais...)
Não há Democracia, quando direitos consagrados numa Constituição podem ser ignorados em prol dum qualquer "interesse nacional" (como se viu no primeiro corte de salários), mas NUNCA esse mesmo interesse nacional é invocado para, por exemplo, suspender e rever negócios claramente danosos para o Estado.
E acima de tudo... não existe Democracia quando não há um verdadeiro respeito por aquilo que é um Voto: o Contrato de Confiança estabelecido entre o eleitor, e aquele que o eleitor elege. Quando não existe a honra do respeitar da verdade do que é prometido em campanha.
Vivemos num mundo em que interesses financeiros esconsos, especulativos, ditam as politicas de governos, ou até mesmo a sua queda... essencialmente, o destino de nações e povos. Em prol de taxas de juro abjectas, de negócios podres, de esquemas ardilosos, economias são desmembradas, sociedades esmagadas, famílias acossadas, e direitos adquiridos, vil e impunemente roubados. E as pessoas começaram a perceber isso... Ainda ontem, ouvia uma senhora em Espanha, numa manifestação, fazer observações nesse sentido. E outra espanhola, com um cartaz que dizia "estar com Portugal". Os povos começam a perceber... a fazer as perguntas certas... e a entender que nada do que vivem pode ser realmente considerado democracia, apesar de haver liberdade de expressão. Noutros tempos... quando os povos se viam oprimidos... era fácil identificar quem os oprimia, e onde estavam.... (Roma, Monarquia Francesa, General Franco, Salazar, Mussolini, Hitler, Estaline, etc... etc...)
Agora... no meio de tudo isto... no meio de tantas políticas recessivas e imorais, em nome da "calma", e da "confiança" (leia-se absurdo lucro) dos chamados "mercados"... a pergunta que se coloca... a pergunta que
NUNCA é realmente respondida... a pergunta mais importante de todas... é:
QUEM está por trás do que, de forma aparentemente arbitrária, especulativa, impõe e aumenta juros sobre dívidas de países como, por exemplo agora a Itália, a terceira maior economia da Europa, naquilo que parece, mais e mais, um ataque concertado, e com objectivos bem delineados...? Essencialmente...
...QUEM, de facto, são os "Mercados"?!...