Wednesday, October 24, 2007

"Portais" para a (minha) Memória: Parte II - A Rainha de Gelo & O Fim Do Mundo

...E nesta estranha toada que me "possuiu", de deixar-um-testemunho-enquanto-é-tempo/recordar-aquilo-
que-ajudou-a-tornar-a-minha-existência-neste-plano-
suportável...

...

(Valha-me.)

...Dizia, nesta minha... "fase", recordei-me... destes livros. Que claramente, fazem parte de um Top Cinco de eleição, meu.

...Tendo-me sido oferecido anos antes, foi em 94 que decidi, numa fase bem difícil da minha vida, "agarrá-lo", e desatar a lê-lo, em todas as pausas e momentos mortos que o meu dia-a-dia me dava, na absoluta, absorvente, e quase ensandecida "rotina" que se tinha estabelecido.

E era um escape. Por segundos, imaginar estes "reinos", tão diferentes do frio, solitário, banal e cruel mundo que, de repente, para mim, ISTO se havia tornado, era... uma espécie de "bolsa de oxigénio" que me era permitida. Por instantes.

Enquanto esperava por autocarros. Barcos. Comia sozinho. Enquanto esperava pela... hora certa de um horário de visitas, em determinado hospital. Ou depois, em certo centro de saúde.

Etc. Etc. Etc.

Costumo dizer: algumas pessoas, em momentos de tensão, começam a fumar. Eu, comecei a ler quase compulsivamente. Ironicamente, raras vezes em casa... Em casa, eu simplesmente estava demasiado cansado. Ou demasiado ocupado em tarefas. O escasso "tempo morto" que tinha, passava-o com o meu amigo de sempre, Morfeu, saboreando a sua "dádiva".

Voltando ao livro...

[Aviso: "spoiler alert". Quem quiser ler o livro, desaconselho continuar. Eu assinalarei quando poderão recomeçar a leitura.]

A Rainha de Gelo, de Joan D. Vinge.

Obra vencedora do prémio Hugo. Um dos mais prestigiados prémios atribuidos à escrita de ficção científica. Problema: um pouco "americanizado" demais. Ainda assim... neste caso, tão bem atribuido.

Este livro... relata-nos uma visão fantástica, romanceada, sem se perder em demasiados "detalhes científicos", de um mundo... de beleza extrema, de simplicidade. O menos desenvolvido de 8 mundos, de uma Hegemonia que é um resquício de um antigo império inter-estelar. Esse império havia sido mantido através do conhecimento de tecnologia que permitia a viagem mais rápida que a luz. Mas tal conhecimento havia-se perdido. E agora, a única forma que existia de "saltar" entre sistemas estelares (e só entre alguns), era recorrendo a buracos negros.

Toda a ambiência... complexidade, demoraria muito a descrever. Porque é... tremenda.

Mas a história passa-se em torno de dois jovens... que se gostam... que são separados por determinados motivos. E vem-se a descobrir que a protagonista (Moon) é um clone da Rainha desse planeta... a Rainha do Inverno. (Porque este planeta... tem um verão e um inverno... com a duração, cada, de décadas. E consoante o ciclo... consoante o povo que governa. O do inverno... ou o do verão.)

E o jovem (Sparks) acaba por ser seduzido pela rainha, mantida eternamente jovem, através do sacrifício de seres marítimos, sencientes, cujo sangue (a "água da vida") dá uma longevidade quase ilimitada.

A Moon acaba por sair do planeta... e à revelia de uma lei que proíbe o regresso de quem tenha saído dele (de nome Tiamat), volta. Para poder voltar a estar com quem ama.

Mas onde é que a história entra realmente num ponto que "mexe" comigo...?

...Quando Moon conhece BZ Gundhalinu. Um oficial da Polícia da Hegemonia, originário do planeta central da referida, Karemough, e vindo de uma das famílias mais poderosas do dito.

E que se apaixona por Moon.

E que, por amor, abdica de tudo, para a ajudar a reencontrar-se com Sparks.

E por quem ela se envolve, uma noite, casualmente. Por carência. Mas... que no final, fica com o Sparks.

E o BZ... é a ÚNICA personagem no livro que sai, de facto, MAL. Perde a honra, o lugar que tinha na sociedade Karemoughi... e só lhe fica a restar o dever. O uniforme. E como o ciclo solar de Tiamat vai isolar o planeta do resto da Hegemonia por... eu sei lá quantos anos... 100, penso... (encerrando o "Portal Estelar") ele, sem nada lá, por que ficar... opta por ser destacado para um outro planeta. Deixar para sempre, para trás, um amor sem esperança.

...E aquilo irritou-me solenemente! Recordo-me de discussões acesas com uma amiga minha, que também leu o livro, porque EU não concordava com aquilo. Era injusto, e estupidamente cruel. Era uma ponta solta, um puxar ao dramalhão fácil!

...E muita gente terá concordado comigo... até amigos da autora... *sorriso malicioso*

...Já que ela acaba, anos depois, por escrever uma continuação... E nas palavras dela, na dedicatória que faz no livro:

"Para Jim. O meu querido amigo e meu crítico mais severo... o que fez que seguisse esta jornada até ao fim."

E assim, pude ler...

Fim do Mundo.

O livro que claramente me fez sentir VINGADO, porque, vá-se lá saber porque raios, identifico-me quase de forma insana com a personagem.

E pude ver como a autora, não se escusando de fazer a personagem sofrer mais "um bocadinho", só uma "coisinha de nada", finalmente lhe dá os meios para...

...Um: contactar Moon... e... no final... descobrir que...

...

Nas palavras finais de Moon, nessa comunicação feita através do espaço infindo:

"Preciso de ti - grita ela, como o grito das aves marinhas."

...Dois: REDESCOBRIR a antiga forma de navegação inter-estelar! O que irá permitir à Hegemonia, voltar a Tiamat, bem antes do pensado... e a BZ também. Para além de lhe granjear uma tremenda posição na Hegemonia, e o voltar a adquirir a honra perdida, perante o seu povo.

Como isto acontece, é contado depois por ela num livro enorme... algo telenovelistico... e a descair demasiado para o dramalhão fácil (outra vez)...

Isso, e outras obras que lhe conheço, levam-me a dizer que Joan D. Vinge é daquelas autoras que se adora detestar. Ou se detesta, adorar. Porque ela cria personagens tão multifacetadas, tão humanas, tão profundas, que nos afeiçoamos a elas... e depois, fá-las sofrer de forma quase... desnecessariamente cruel. :P

Ah, e o livro, que para mim, é o mais fraco desta... "trilogia", é este: A Rainha de Verão.


[Fim do "spoiler alert". Aliás... Fim.]

...

(...Valha-me... Que tremenda necessidade de catarse, se apossou de mim...)

(...Mas quem é que vai ter paciência para ler isto tudo...?)

2 comments:

Onda Encantada said...

:) interessante...

Qual das partes do livro são ficção mesmo? :)

Grata pela partilha.

Onda Encantada

Excelsior said...

...

...

...!

...

*...sorrindo, erguendo uma sobrancelha, sentindo um misto de surpresa e constrangimento...*

...

...Onda Encantada...

...

...Porque é que eu tenho cada vez mais a nítida sensação que és a única pessoa que percebe perfeitamente tudo o que aqui tenho feito, exposto, "emitido"... o meu momento... E em alguns aspectos, quiçá, até melhor que eu?

...

...Nada porque agradecer... Aliás, a gratidão é minha, juntamente com os meus "parabéns", pela tremenda paciência para leres este texto...

...

(...E nunca a expressão "Um Sorriso Fraterno" foi por mim tão bem empregue...)

Luz. Reunificação. Visão.

*...sorriso tímido...*

...