(Este... pode quase ser chamado de... "o fragmento definitivo"...)
...
Void
Um mortal havia perdido quase tudo...
Na dor gerada pelo vazio surgido na sua alma, por tamanha perda, o ser inexistente que era a consciência do Reino do Nada, fez-se ouvir dentro de si. Um redemoinho de sombras surgiu à sua volta, e o mortal foi puxado para o âmago do Nada. Perante vastas imensidões de planícies e montanhas rochosas, frias, escuras, e onde sombras gélidas vagavam em forma de névoas, a este ser foi-lhe proposto, na verdade imposto, que se tornasse o senhor daquelas regiões sem vida, vazias, e onde a pouca luz existente emanava de distantes, parcas e apagadas estrelas...
Nesse reino, ele seria omnisciente, e quase omnipotente. Seria também senhor dos Sagrados Portais, que uniam aquela zona sombria aos Reinos do Tudo, do qual o Nada era região limítrofe. Mas tal não era de todo tão magnífico ou imponente como poderia parecer. Pois este ser passou a estar ligado a esse reino com laços inquebráveis, que o tornavam, em essência, um ser de sombras, unido aquelas que vagavam sem destino, pelo seu novo lar... E apesar de poder atravessar os portais de revoltas sombras, e visitar qualquer reino do Tudo, este ser tinha sempre a voz inaudível do Nada, quase zombeteira, lembrando-lhe constantemente que apesar de lá poder estar, ele nunca mais haveria de pertencer a tais domínios, nem lá poderia ficar muito tempo sem voltar à sua precedência.
E assim, ele vagou pelos Reinos do Tudo, conhecendo seres e sítios, vivendo diversas situações, mas sempre com um sentimento de solidão corroendo o muito pouco que lhe restava da alma. Pois ninguém tinha o poder, ou vontade, de o ajudar, de o libertar. Pois ele ela Void, Lorde do Nada... para sempre.
Mas "sempre" é um termo por vezes muito relativo. Pois algo aconteceu. Forças mesquinhas, quase inconsequentes, desencadearam eventos que seriam, à primeira vista, inofensivos, mas que resultaram numa cadeia de eventos que alcançou proporções dantescas... e o Nada foi assolado pelo seu próprio fim. Faixas de fogo prateado, intensas, rasgavam o ar em línguas imensas, dissolvendo sombras, rasgando e estraçalhando rochas e montanhas, e, aos poucos, no meio de um caos de tempestades destruidoras... O Nada ia desfalecendo. Perdido no meio de tudo isto, Void flutuava pouco acima das correntes frias que rugiam a dor que a consciência não existente do Nada sentia no seu âmago. O seu grito inaudível de raiva e dor soava dentro de Void... Este, usando todo o seu poder, brilhou como uma estrela negra, apenas para descobrir que todo aquele imenso poder era nada para deter a vaga que destrocava o seu reino, o seu lar, inexoravelmente. Não havia coisa alguma que tanto ele como o Nada pudessem fazer para evitar... o fim. E este veio, de rompante. Quando tudo era chamas de uma luz que nada iluminava, num clarão final e total, o Nada desapareceu. A dimensão do Nada já não era mais.
Sem LUGAR onde estar, Void foi atirado, através das barreiras dos reinos, para uma dimensão exterior e desértica, dos reinos do Tudo. Enfraquecido, e com o seu manto e vestes negros rasgados e desfeitos, Void estava prostrado no chão, indefeso... e sem nenhum elo que o ligasse ao Nada. Este, simplesmente, tinha cessado de “existir”.
Forças, seres, entidades com as quais Void se havia cruzado anteriormente, e não de uma forma agradável, durante o seu tempo de Lorde, sentiram o que se havia passado, e viram nisto uma oportunidade de vingança. Void olhou, com esforço, para cima, e viu essas forças, formas, e entidades, a formarem-se nos céus, e mesmo já sem nenhum poder conferido pelo Nada, os resquícios do seu sentido místico sentiram as intensas, enormes, devastadoras emanações que esses seres enviavam. Em desespero, ele recorreu, mais uma vez, apesar de sentir que era inútil, ao elo que ainda até tão pouco o tinha unido as forcas que outrora lhe teriam dado total segurança, perante uma situação destas. Mas o Nada, e as sombras, já não existiam. Só que ALGO ainda existia... pois apesar de o Nada, as sombras, a escuridão, e o frio terem cessado de existir, a LUZ que outrora, pouca mas firme, havia brilhado na forma de estrelas fracas, perdidas, e ténues, ainda existia... E o que restava do seu elo com tais forcas, permitia-lhe chamar essa luz. No ultimo instante, esse chamamento é feito, e de novo o seu manto e vestes se recriam, desta vez com um tom branco sujo, brilhante. Em vez de sombras negras rodeando-o, agora existia uma aura de luz intensa... fria, mas intensa. Com um sorriso de triunfo, Void brilhou como uma estrela, rechaçando todas as forcas que o atacavam, numa explosão de luz.
Agora, Void já não era o imortal senhor de todo o Nada... Era apenas Void, um mortal, com um poder finito, mas tão mais belo. Pois agora, ele era portador de uma luz intensa, fria sim, mas tão mais bela do que todas as negras sombras que tinham sido parte dele... E ele era livre! Livre para viajar através de todos os reinos do Tudo, buscando o Caminho, e a Senda...
Mas o Nada ainda existia. A sua “consciência”, “essência, ainda existia.
Apenas tinha sido destroçada, e o leve arremedo de existência que tinha tido, graças ao elo com Void, apagada. Mas estava de volta, clamando pelo seu Lorde, a sua eterna vitima, pois apenas graças a ele, este podia tocar os mundos do Tudo, ser algo levemente similar a um dos seus reinos. E queria-o a todo o custo! Desta vez, ele não o deixaria escapar. Mas a luz que agora Void possuía protegia-o contra as investidas do Nada, impedindo que este criasse o canal que permitiria o restabelecer dos elos com o vazio da alma de Void.
Só que durou relativamente pouco, esta era prateada, para Void. Pois a luz que lhe tinha sido restaurada, foi-lhe tirada, roubada, usurpada!, de uma forma cruel e inesperada! Numa dor desesperada, alucinante, enlouquecedora, repentina mas eterna, Void viu a luz que tinha habitado o seu ser desaparecer, elevar-se e perder-se, rumando a planos que lhe estavam negados. Numa esfera da mais bela luz, ela partia. E o Nada sentiu isso, e em menos de tempo nenhum, reclamava de novo o seu servo. Sombras voltavam de novo ao seu antigo senhor, rodeando-o, com uma intensidade como nunca antes, pois nunca a alma de Void havia estado com um vazio tão grande. Sem a luz que outrora ele tinha, apesar de tudo, levado consigo para o Nada, o poder deste sobre ele era total. O Nada seria uma afirmação, no seu ser.
Com a dor da perda a dar-lhe um último momento de parca lucidez, antes de o elo com o Nada voltar a ser uma realidade como nunca o tinha sido, Void lançou, na forma de uma mão de sombras, que voltavam já a estar sob seu poder... um apelo, uma chamada, uma tentativa de voltar a chamar a si a tão adorada luz que sempre tinha tornado suportável a sua existência, mesmo nos momentos mais negros. Apelo vão. As sombras apenas roçaram aquele globo imenso de luz ascendente, no seu ultimo momento de existência nesta realidade. E depois este desapareceu. A única coisa que dele ficou, um leve resíduo, uma camada tão ténue, que mal se sentia. Mas com uma necessidade quase irracional, Void chamou-o para si, tomando-a na sua mão, moldando-a na forma de uma pulseira prateada, de luz suave e débil, que se fixou no seu pulso no exacto momento em que o Nada fazia a sua ultima investida, completando o elo. E a memória de luz que ele agora possuía na forma de um artefacto prateado era de longe fraca demais para lhe dar a antiga liberdade que ele outrora tivera, fraca demais para quebrar o elo.
Mas era o suficiente para impedir a submissão. O domínio da consciência do Nada sobre a sua era nulo. A luz funcionava como uma ultima linha de defesa. O elo existia, mas não o submetia. Logo, era a SUA consciência que era a dominante naquele elo. Era ELE que controlava, totalmente, como nunca antes, tudo o que o Nada significava, possuía, personificava. Toda aquela contradição. Tudo. NADA! Era isso que ele era. Agora. Sempre. Nunca. Para sempre. Vazio. Negro. Frio. SÓ. A ultima ironia.
De volta ao Nada, ele estava. Perdido em sombras e rochas, negras e absolutas, ele estava. Muitas vezes ele abandonava aquele pesadelo de tempestades sombrias, quando o desespero era demais, e uma enorme vontade de sentir VIDA, existência, o assolava. Alguns seres ele ainda ia contactando, esporadicamente. Mas de tais contactos, pouco mais restava. A mesma impossibilidade, ou falta de vontade, em fazer algo, manifestava-se. E, em casos particulares, até confiança traída era mais um acrescento à dor do vazio, da ausência, na sua alma. E era insuportável. A maior parte das vezes, ele apenas permanecia embrulhado no seu manto, vagando em mares sombrios de névoas, perdido em memórias de um tempo ido. E chorando.
Void - lorde de nadaNa dor gerada pelo vazio surgido na sua alma, por tamanha perda, o ser inexistente que era a consciência do Reino do Nada, fez-se ouvir dentro de si. Um redemoinho de sombras surgiu à sua volta, e o mortal foi puxado para o âmago do Nada. Perante vastas imensidões de planícies e montanhas rochosas, frias, escuras, e onde sombras gélidas vagavam em forma de névoas, a este ser foi-lhe proposto, na verdade imposto, que se tornasse o senhor daquelas regiões sem vida, vazias, e onde a pouca luz existente emanava de distantes, parcas e apagadas estrelas...
Nesse reino, ele seria omnisciente, e quase omnipotente. Seria também senhor dos Sagrados Portais, que uniam aquela zona sombria aos Reinos do Tudo, do qual o Nada era região limítrofe. Mas tal não era de todo tão magnífico ou imponente como poderia parecer. Pois este ser passou a estar ligado a esse reino com laços inquebráveis, que o tornavam, em essência, um ser de sombras, unido aquelas que vagavam sem destino, pelo seu novo lar... E apesar de poder atravessar os portais de revoltas sombras, e visitar qualquer reino do Tudo, este ser tinha sempre a voz inaudível do Nada, quase zombeteira, lembrando-lhe constantemente que apesar de lá poder estar, ele nunca mais haveria de pertencer a tais domínios, nem lá poderia ficar muito tempo sem voltar à sua precedência.
E assim, ele vagou pelos Reinos do Tudo, conhecendo seres e sítios, vivendo diversas situações, mas sempre com um sentimento de solidão corroendo o muito pouco que lhe restava da alma. Pois ninguém tinha o poder, ou vontade, de o ajudar, de o libertar. Pois ele ela Void, Lorde do Nada... para sempre.
Mas "sempre" é um termo por vezes muito relativo. Pois algo aconteceu. Forças mesquinhas, quase inconsequentes, desencadearam eventos que seriam, à primeira vista, inofensivos, mas que resultaram numa cadeia de eventos que alcançou proporções dantescas... e o Nada foi assolado pelo seu próprio fim. Faixas de fogo prateado, intensas, rasgavam o ar em línguas imensas, dissolvendo sombras, rasgando e estraçalhando rochas e montanhas, e, aos poucos, no meio de um caos de tempestades destruidoras... O Nada ia desfalecendo. Perdido no meio de tudo isto, Void flutuava pouco acima das correntes frias que rugiam a dor que a consciência não existente do Nada sentia no seu âmago. O seu grito inaudível de raiva e dor soava dentro de Void... Este, usando todo o seu poder, brilhou como uma estrela negra, apenas para descobrir que todo aquele imenso poder era nada para deter a vaga que destrocava o seu reino, o seu lar, inexoravelmente. Não havia coisa alguma que tanto ele como o Nada pudessem fazer para evitar... o fim. E este veio, de rompante. Quando tudo era chamas de uma luz que nada iluminava, num clarão final e total, o Nada desapareceu. A dimensão do Nada já não era mais.
Sem LUGAR onde estar, Void foi atirado, através das barreiras dos reinos, para uma dimensão exterior e desértica, dos reinos do Tudo. Enfraquecido, e com o seu manto e vestes negros rasgados e desfeitos, Void estava prostrado no chão, indefeso... e sem nenhum elo que o ligasse ao Nada. Este, simplesmente, tinha cessado de “existir”.
Forças, seres, entidades com as quais Void se havia cruzado anteriormente, e não de uma forma agradável, durante o seu tempo de Lorde, sentiram o que se havia passado, e viram nisto uma oportunidade de vingança. Void olhou, com esforço, para cima, e viu essas forças, formas, e entidades, a formarem-se nos céus, e mesmo já sem nenhum poder conferido pelo Nada, os resquícios do seu sentido místico sentiram as intensas, enormes, devastadoras emanações que esses seres enviavam. Em desespero, ele recorreu, mais uma vez, apesar de sentir que era inútil, ao elo que ainda até tão pouco o tinha unido as forcas que outrora lhe teriam dado total segurança, perante uma situação destas. Mas o Nada, e as sombras, já não existiam. Só que ALGO ainda existia... pois apesar de o Nada, as sombras, a escuridão, e o frio terem cessado de existir, a LUZ que outrora, pouca mas firme, havia brilhado na forma de estrelas fracas, perdidas, e ténues, ainda existia... E o que restava do seu elo com tais forcas, permitia-lhe chamar essa luz. No ultimo instante, esse chamamento é feito, e de novo o seu manto e vestes se recriam, desta vez com um tom branco sujo, brilhante. Em vez de sombras negras rodeando-o, agora existia uma aura de luz intensa... fria, mas intensa. Com um sorriso de triunfo, Void brilhou como uma estrela, rechaçando todas as forcas que o atacavam, numa explosão de luz.
Agora, Void já não era o imortal senhor de todo o Nada... Era apenas Void, um mortal, com um poder finito, mas tão mais belo. Pois agora, ele era portador de uma luz intensa, fria sim, mas tão mais bela do que todas as negras sombras que tinham sido parte dele... E ele era livre! Livre para viajar através de todos os reinos do Tudo, buscando o Caminho, e a Senda...
Mas o Nada ainda existia. A sua “consciência”, “essência, ainda existia.
Apenas tinha sido destroçada, e o leve arremedo de existência que tinha tido, graças ao elo com Void, apagada. Mas estava de volta, clamando pelo seu Lorde, a sua eterna vitima, pois apenas graças a ele, este podia tocar os mundos do Tudo, ser algo levemente similar a um dos seus reinos. E queria-o a todo o custo! Desta vez, ele não o deixaria escapar. Mas a luz que agora Void possuía protegia-o contra as investidas do Nada, impedindo que este criasse o canal que permitiria o restabelecer dos elos com o vazio da alma de Void.
Só que durou relativamente pouco, esta era prateada, para Void. Pois a luz que lhe tinha sido restaurada, foi-lhe tirada, roubada, usurpada!, de uma forma cruel e inesperada! Numa dor desesperada, alucinante, enlouquecedora, repentina mas eterna, Void viu a luz que tinha habitado o seu ser desaparecer, elevar-se e perder-se, rumando a planos que lhe estavam negados. Numa esfera da mais bela luz, ela partia. E o Nada sentiu isso, e em menos de tempo nenhum, reclamava de novo o seu servo. Sombras voltavam de novo ao seu antigo senhor, rodeando-o, com uma intensidade como nunca antes, pois nunca a alma de Void havia estado com um vazio tão grande. Sem a luz que outrora ele tinha, apesar de tudo, levado consigo para o Nada, o poder deste sobre ele era total. O Nada seria uma afirmação, no seu ser.
Com a dor da perda a dar-lhe um último momento de parca lucidez, antes de o elo com o Nada voltar a ser uma realidade como nunca o tinha sido, Void lançou, na forma de uma mão de sombras, que voltavam já a estar sob seu poder... um apelo, uma chamada, uma tentativa de voltar a chamar a si a tão adorada luz que sempre tinha tornado suportável a sua existência, mesmo nos momentos mais negros. Apelo vão. As sombras apenas roçaram aquele globo imenso de luz ascendente, no seu ultimo momento de existência nesta realidade. E depois este desapareceu. A única coisa que dele ficou, um leve resíduo, uma camada tão ténue, que mal se sentia. Mas com uma necessidade quase irracional, Void chamou-o para si, tomando-a na sua mão, moldando-a na forma de uma pulseira prateada, de luz suave e débil, que se fixou no seu pulso no exacto momento em que o Nada fazia a sua ultima investida, completando o elo. E a memória de luz que ele agora possuía na forma de um artefacto prateado era de longe fraca demais para lhe dar a antiga liberdade que ele outrora tivera, fraca demais para quebrar o elo.
Mas era o suficiente para impedir a submissão. O domínio da consciência do Nada sobre a sua era nulo. A luz funcionava como uma ultima linha de defesa. O elo existia, mas não o submetia. Logo, era a SUA consciência que era a dominante naquele elo. Era ELE que controlava, totalmente, como nunca antes, tudo o que o Nada significava, possuía, personificava. Toda aquela contradição. Tudo. NADA! Era isso que ele era. Agora. Sempre. Nunca. Para sempre. Vazio. Negro. Frio. SÓ. A ultima ironia.
De volta ao Nada, ele estava. Perdido em sombras e rochas, negras e absolutas, ele estava. Muitas vezes ele abandonava aquele pesadelo de tempestades sombrias, quando o desespero era demais, e uma enorme vontade de sentir VIDA, existência, o assolava. Alguns seres ele ainda ia contactando, esporadicamente. Mas de tais contactos, pouco mais restava. A mesma impossibilidade, ou falta de vontade, em fazer algo, manifestava-se. E, em casos particulares, até confiança traída era mais um acrescento à dor do vazio, da ausência, na sua alma. E era insuportável. A maior parte das vezes, ele apenas permanecia embrulhado no seu manto, vagando em mares sombrios de névoas, perdido em memórias de um tempo ido. E chorando.
Segunda-feira, 7 de Junho de 1999
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