1/6/89
Celebre-se a indiferença! Assim o mundo perde a sua influência sobre o indivíduo. Quando a divina indiferença se afirma, as cadeias da personalidade dissolvem-se e a acção torna-se um eco dos planos superiores. O pecado desaparece pois o amor impessoal flui criativamente. A tranquilidade instala-se pois a mente deixa de tecer conjecturas acerca dos destinos da energia pessoal.
O sopro da divina indiferença apaga o desejo pessoal e faz retornar ao indivíduo a energia dissipada. Desse modo a indiferença, filha do carma, liberta o discípulo para agir livremente nos três mundos e confere-lhe o privilégio de usar e exteriorizar a energia da tríada.
Indiferente aos três mundos, o discípulo pode caminhar com o passo seguro de quem já não se apoia na terra fugidia. Indiferente, o discípulo torna-se diligente e utiliza os sentido em total desapego para com o modo como o mundo os utilizou, no passado, visando aprisioná-lo. A indiferença retira à matéria o poder de aprisionar e traz ao espírito a liberdade de agir. Ela, que é infinitamente contrária ao desprezo, permite ao Amor divino exteriorizar-se com o único apoio realmente firme - o que encontra em si mesmo.
O discípulo indiferente não teme nem deseja o retorno das acções. Ele age em sintonia com a Unidade onde tudo está contido e, portanto, onde também se incluem as acções e reacções. Além disso, a acção egoísta quer resultados, enquanto a acção verdadeiramente altruísta cumpre o Plano e nada mais.
Celebre-se, pois, a indiferença que precipita a luz supramundana no mundo. Sustente-se que nada tem importância para que as realidades verdadeiramente importantes encontrem o seu canal de manifestação. Deste modo os últimos pares de opostos verão ser-lhes retirada a energia e, incapazes de perpetuar os conflitos que iludem o homem, retornarão à sua raiz.
O homem realmente indiferente faz do mundo das aparências um deserto; contudo encontra aí a seiva da Vida e deleita-se com os infinitos cambiantes da mesma Unidade subjacente. O eco do Espírito alcança os seus ouvidos evocando os sons que deverão ressoar pelo mundo. As mais belas e puras flores são colhidas no deserto das aparências. As melhores afirmações fazem-se quando não é importante escutar a sua resposta.
O divino somente pode actuar nas esferas das formas particulares e continuar a ser divino quando a indiferença assegura a presença da unidade. Onde a indiferença não é completa, o mundo ainda conserva o poder de dispersar a energia do iniciado e separá-lo de si mesmo.
É-me indiferente a resposta da tua forma à mensagem mas sou alegre com a alegria da unidade afirmada em ti.
SERAPIS BEY
(in Pérolas de Luz, Volume II, do Centro Lusitano de Unificação Cultural)
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