Sunday, March 25, 2012

A CAMINHO DA TRANSFIGURAÇÃO - 12

   


27/5/89

    Onde a personalidade hesitou, eu afirmo a Unidade. Onde a personalidade jaz espezinhada, Eu afirmo a Fénix renascida das próprias cinzas. Esta Fénix é dourada. Tem milhares de amores e nenhuns apegos, múltiplas audácias e nenhum medo. Ela, que é filha do fogo, foi feita para ascender aos céus.
    Ao guerreiro não basta vencer a personalidade. Vencida a batalha, há que estabelecer posições na terra conquistada. A alma luta, durante muitas encarnações, para derrotar a personalidade. O divino luta para derrotar o separatismo. No entanto esta é uma guerra que só fica plenamente ganha quando a derrota do adversário é seguida de conquista, invasão e mistura de raças entre invasores e vencidos. Cada derrota das trevas deve ser seguida de uma invasão de luz. De que serve conquistar uma praça se ela é depois deixada ao abandono? Eis a razão pela qual a afirmação da luz é imprescindível.
    A luta entre o morador e o Anjo implica, durante muito tempo, negar o morador. É a técnica do desapego e da abstracção, o doloroso caminho dos que, a ferros, vão extraindo da personalidade o Filho aprisionado. Mais tarde, porém, torna.se imperioso que o Filho se afirme, conduzido pelo Pai. Então o que está em causa não é desapego mas sim afirmação da Luz. Onde o vento do Espírito arrasou as construções pessoais, há que trazer a iluminação impessoal e dar início a construções de outro tipo. O homem continua a construir para si - com a diferença de que, agora, ele é um com o Todo e, portanto, construir para si é construir para a Unidade.
    O iniciado que se vence a si mesmo depara com ruínas e sabe que não pode retornar a elas. O vazio que fica deve ser preenchido com afirmações de luz. De afirmação de luz em afirmação de luz ele terminará, assim, o palácio da transfiguração e tratará de embelezá-lo até que, na crucificação, a luz se tornará excessiva para o edifício que serviu durante eras. Depois o homem deixará de entrar e sair do palácio (que já não existe) para adquirir o direito de circular, com pleno conhecimento, na Cidade de Deus.
    Se te venceste, completa a tarefa com a invasão da Luz. Onde encontrares desolação, cultiva as cintilantes flores da Realidade.
    Saúdo o guerreiro e, nele, saúdo todos os guerreiros.

MORYA


(in Pérolas de Luz, Volume II, do Centro Lusitano de Unificação Cultural) 

Monday, March 19, 2012

Sunday, March 11, 2012

A CAMINHO DA TRANSFIGURAÇÃO - 11





21/5/89


    Para que o Espírito desperte a serpente adormecida, a cabeça desta há-de ser esmagada. De outro modo, o seu poder ficará entregue à selvática actividade do egoísmo pessoal em vez do tranquilo império espiritual.
    Para que o Espírito desperte a serpente adormecida, o poder do Som interno há-de fazer-se sentir. De outro modo, as vozes que apelam aos sentidos levarão à dissipação da força e à sua descida.
    Para que o Espírito desperte a serpente adormecida, o iniciado há-de ter feito entrega de si mesmo ao mestre interno e ao mestre externo. De outro modo, os mundos materiais tentarão apoderar-se dele.
    Para que o fogo ascenda em ordem, o Espírito há-de ter despertado a serpente no momento em que o percurso dos seus anéis está em equilíbrio. Nenhum centro deve vibrar em excesso ou em defeito. O carma nos três mundos há-de ter convertido o iniciado num homem firme. O trono da firmeza é neutro e já não cede perante o prazer e a dor, feitos servos do equilíbrio.
    Para que o fogo ascenda em ordem, o iniciado não pode apegar-se a nenhum objecto de nenhum dos três reinos horizontais. De outro modo, a corrente poderá ser desviada e, dado o seu poder, os mecanismos cármicos actuarão para reconduzi-la ao seu lugar cobrando o tributo de uma dor colossal.
    Para que o fogo ascenda em ordem, todas as condições devem ser cumpridas com ritmo e persistência. A grande conquista é marcada pelo ritmo surdo do tambor. É só quando a recta fica estabelecida que, aos ritmos dolorosos e extenuantes dos tambores de guerra, podem suceder as harmonias da criação. Quando a Unidade impera, as recompensas que não são para o iniciado podem ser saboreadas por este. Não antes.
    Quando o iniciado se dedica à contemplação e à unificação com as forças do Cosmos, o Cosmos pode actuar nele e conceder-lhe o Poder e os poderes. Só então ele é digno de usar as forças da Grande Mãe. Nesse caso ele terá reconhecido que, num sistema harmónico, só há um sol, fonte de todas as luzes, e deixará o Sol Espiritual aquecê-lo. Deixará também que a luz branca do dia espiritual ilumine os seus passos e, nessa lucidez, já não poderá tropeçar gravemente.
    Aprende a unificar totalmente os fogos da personalidade e a lançá-los ao Céu como oferta, tributo e apelo sonoro; aprende a expectar na resposta que é dádiva, gratidão pelo tributo e ordem imperiosa. Aprende a não estar mas a ser apenas e serás livre para realizar o teu destino que é acorde do destino colectivo, veículo do Plano e avenida do regresso. Aprende a indiferença nos três mundos e a sensibilidade nos mundos superiores para que o teu coração vibre com cada pulsação de vida em toda a parte. Aprenderás, então, a reconhecer a Beleza do Carma. Nada há de mais belo do que a própria Lei do Equilíbrio no Universo. É por isso que a verdadeira sensibilidade estética conduz ao Bem Supremo através de sucessivas oscilações equilibradoras entre dores e prazeres e bens e males parciais. O Espírito, que contempla o Bem, é bem-aventurado. Porque no Espírito tudo é uno, o teu Espírito não é teu e permanece plenamente bem-aventurado. Ao elevares a tua individualidade consciente até ele, receberás, pois, uma herança que te foi deixada por ti mesmo quando mergulhaste nos mundos da complexidade.
    Eu Sou O Que Sou


LAMORAE

(in Pérolas de Luz, Volume II, do Centro Lusitano de Unificação Cultural)

Sunday, March 04, 2012

A CAMINHO DA TRANSFIGURAÇÃO - 10




17/5/89

    Recta é a obediência ao Plano que serve a Unidade através dos interstícios da diversidade onde se infiltra. O Plano é encontrado no Agora Eterno, quando a personalidade deixou de estar mergulhada no tempo psicológico receando e desejando o futuro e receando e desejando o passado. Quando a Vontade de servir o Plano substitui o desejo de ser servido pelas circunstâncias, o Espírito faz ouvir a sua voz. Deste modo o Carma dos três mundos começa a ser definitivamente ultrapassado. Carma, que é causa e efeito, é igualmente Tempo e acção.
    A Sabedoria começa a fluir, gota a gota e fora do comando do discípulo, no início da sua marcha pelo caminho iniciático. Chega, contudo, o momento para que a Alma se afirme e o discípulo impessoal obtenha acesso àquela forma de Sabedoria que é Poder e chave. Nesse momento, a Sabedoria já não flui gota a gota mas corre num fio prateado e contínuo.
    Eu Sou O Que Sou

SANAT KUMARA



(in Pérolas de Luz, Volume II, do Centro Lusitano de Unificação Cultural)

Thursday, March 01, 2012

A CAMINHO DA TRANSFIGURAÇÃO - 9





15/5/89


    O fogo varre o horizonte. A terra está calcinada na totalidade da sua extensão. O vento da tempestade sopra agora como nunca soprou. O homem desejaria deixar-se derrubar mas o Espírito não consente. A voz tonitruante ressoa com os tambores de guerra: «Eis o teu umbral. Avança e torna-te mais do que um homem!»

    Não há para onde fugir. Não há quem queira ou quem ouse agir. O homem caminha porque é impossível não caminhar. Não olha para trás porque é impossível olhar para trás. Uma por uma, as suas envolturas caem por terra enquanto, através delas, o ser avança. Ao longe, ainda quase inaudíveis, soam os hinos da liberdade. A dor ainda o impede de desfrutá-los.

    No horizonte estavam duas esferas colossais que se tocavam num único ponto. O homem  ambicionava chegar a elas mas, agora, só não foge ao encontro porque é impossível fugir. No local da união das duas esferas está um altar. Aí ardem três chamas.
    O homem não conhece os gestos a fazer; contudo a sabedoria está nele: empunha a espada, tempera-a no altar e, com um gesto resoluto, ergue-a ao Céu e toca a esfera superior. As palavras ressoam: «Senhor, faça-se a Tua vontade e não a minha. Por ti, não para mim. Sempre e não somente agora!»
    O ser interior empunha a espada. Leva-a a voltear no ar captando a espiral interior desperta pelo Raio do silêncio. Então enterra-a no próprio coração. O sangue derramado tomba sobre o altar onde a chama o volatiliza. O vapor escapa-se para a esfera superior passando pelo estreito ponto de contacto. Então o homem avança para o mundo ardente. Já nada mais pode detê-lo. Os despojos ficaram para trás. A dor é indescritível. A mais desenfreada das batalhas foi curta. O mais amargo dos cálices foi bebido de um trago, sob a inspiração do relâmpago.
    A esfera superior recebe, finalmente, o homem. Este ganhou asas formosas de que ainda não se apercebe. Anjos colocaram-lhe uma coroa cintilante sobre a cabeça que, no entanto, arde com a dor do confronto. Já se ouvem os cânticos de alegria mas o grito de dor ainda ressoa igualmente. O portal está aberto e, no seu umbral, o antigo fantasma aterrorizador converteu-se num boneco de trapos.
    A alegria ressoa lentamente pelas fibras da alma. O último passo é já um pouco mais ligeiro. Do outro lado, todos os palácios têm paredes de cristal. O Ancião dos Dias está no maior dentre eles para acolher o guerreiro. Abençoa-o e oferece-lhe um longo estandarte branco. Toma a sua espada, toca-a com o ceptro e devolve-lha: ela deu boas provas e merece continuar na sua posse porque foi ele próprio que a temperou.
    Altos dignitários saúdam o seu novo companheiro e revelam-lhe coisas de pasmar enquanto ele se volta para o mundo que deixou e descobre a sua verdadeira face.
    Tu, que soubeste, pudeste, ousaste e calaste, és bem-vindo entre nós! Em breve poderás tornar a encher a tua taça.


SERAPIS BEY (Um hierofante de Shamballa)


(in Pérolas de Luz, Volume II, do Centro Lusitano de Unificação Cultural)